segunda-feira, 15 de novembro de 2010






há por aí uma ponte levadiça


levanta-te ó mestre do desmaio colectivo




por outro lado não há ninguém






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terça-feira, 12 de outubro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010





talvez te diga que o incêndio é o dedo dentro dessa água madura e esquiva. como se fosse um gesto. como se fosse um cérebro azulado de música assim como quem não sabe nada. e por aí fora. pois.




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sexta-feira, 9 de julho de 2010







a fenda no sexo da pele exorcisa os dentes.

o desejo é fêmea, disse a cadeira.





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segunda-feira, 28 de junho de 2010




plano dois


enquanto o silêncio se desculpa em segredos o génio nasce e desce as escadas como se não fosse nada.
degustações ingénuas da fóbica aparência do meio.




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quarta-feira, 23 de junho de 2010




primeiro plano


um homem desce a escada vestido de preto e branco. nunca viu outra cor. é castanha escura a madeira. o homem diverte-se com o plano que vê a preto e branco.
à mesa senta-se com a cadeira debruçada sobre esta coisa a remexer por dentro do que a gente quer. e quando se senta já é tarde para aumentar o tamanho das ruas e desenhar um fio entre a boca. branca de sangue.

segunda-feira, 3 de maio de 2010


ardo na febre de um poeta sentado à beira-rio enquanto a chuva acena ângulos azuis devorados pelas paredes. um a um, os ângulos. e a adivinhação do silêncio desgasta-se nas barbatanas de um peixe solto dois metros à frente, no mergulho da morte.

uma luz sem fundo arrasta o tempo nos orifícios do palco. sofregamente rasgo tudo.

a dor mostra-me um termómetro. evidentemente, sou um peixe.


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terça-feira, 13 de abril de 2010

o cão mexe-se. traz um medo no peito num rosnar sonâmbulo. o cão é um poema em sangue. um descolar da pele quando me baixo e lhe amanso o pêlo. o cão come. o cão adormece no silêncio do sofá que não é de gente. é de cão. o cão inventa um apóstolo ao lado das omoplatas de uma fotografia.

mal pensado esse encontro. o cão nada com a pata maior a fugir do sítio.

o cão cai de costas e adormece o tempo. o cão é um segundo.
o relógio parou. o cão é um relógio. o cão é um tempo. meu.
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domingo, 28 de fevereiro de 2010





1) alargo o passo depois do cigarro aceso.
2) confundo-me embrulhada de manhãs no gesto mínimo da náusea.
3) escovo os dentes como se o coração rebentasse, oco, sem sombra.

tantos contrários no peito da minha febre.


plof - isto deve ser um som de silêncio.



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domingo, 24 de janeiro de 2010





não sei se o peso tem a medida das coisas mortas mas penso que murmurar tem o sentido da cama desfeita. enquanto a vida se resume a decorações abstractas de nós próprios. altíssimos seres fascinados com o mórbido real. carpideiras dos horrores do sangue. há nos olhos o desejo do escuro abafado em azuis, farrapos de pedras no chumbo do peito.

poupo-me o oxigénio. respiro pouco.



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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010




gela-me o corpo entre o tarso e uma reles definição de sonho. a pedra levantada é agora o estrume onde renovo a minha ideia de humidade.





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