sábado, 18 de maio de 2013



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Não fui capaz de te rasgar a camisa. A respiração pesava e o cigarro ao canto da boca deixava-me acender-te o gozo de me veres morrer. Era simples. Uma corda e um barrote a pulsar entre metafísicas e poetas. Chegava. Era suficiente. Um garrote no braço e uma ilusão de espaço a lembrar-me a vida. O desalinho das noites eternas que seguem sempre um movimento imaginado à luz de todas as impossibilidades que escrevem mal e se detêm nesse diálogo projectado nos olhos dos que correm à pressa para não perderem o metro das seis da tarde, porque seis é um número interessante e cheio de dramas e feito em cama lavada e imperfeita acção a lavar as mãos de todos os passados escritos em papéis pardos no restaurante ao lado do teatro, onde tudo se resumiu a uma garrafa de vinho murmurado no desdém primitivo das últimas tragédias.
 
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Maria Quintans, Chama-me Constança, Editora Salamandra - 2011